Pierre Schaeffer (1910-1995) nasceu em 1910. Seu pai era violoncelista e sua mãe cantora. Estudou violoncelo no conservatório de Nacy, sua cidade natal.
Termina a Ecole Polytechnique em 1934.
Em 1941, a partir das tecnologias de transmissão, especialmente rádio e cinema, chama a atenção para a noção de arts-relais (relé: dispositivo de transmissão de sinal radioelétrico amplificando-o), cuja função era " retransmitir, de uma certa maneira, o que costumávamos ver e ouvir diretamente e expressar, de uma certa maneira, o que não costumávamos ver e ouvir " (Technique et esthétique des arts-relais).
Desde 1940 produz o programa de rádio Radio Jeunesse e em 1944 apresenta a novela radiofônica Coquille a Planètes .
Em 1943 monta um laboratório de experimentação, o Studio d'Essai de la Radiodiffusion Nationale.
Nessa época Schaeffer se dá conta da importância do microfone que, mesmo sem transformar os sons, modifica a escuta enquanto que os meios de registro sonoro levam essa modificação muito mais longe.
Em 5 de outubro de 1948, Scaheffer apresenta na rádio seus Cinq études de bruits marcando o início da musique concrète. Schaeffer usou amostras sonoras gravadas em disco e trabalhadas posteriormente em um estúdio radiofônico adaptado, incluindo sons de locomotivas e estação de trem, fragmentos de musica orquestral, trechos de peças para piano tocadas por Boulez, e musica balinesa. A tecnologia empregada, embora complexa para a época, era bastante limitada: um aparelho para corte de discos de acetato, 4 toca-discos, um mixer de 4 canais, uma câmara de eco e uma unidade móvel de gravação.
Étude aux chemins de fer (1948)
A arte dos sons fixados, batizada posteriormente de Musique Concrète, potencializa a idéia de Rebelais no Le Quart Livre (1532-1564) em que imagina que as palavras congeladas no frio do inverno poderiam ser transportadas como gelo e ouvidas posteriormente. Schaeffer rotorna a essa alegoria com Les paroles dègelées (1952).
Ao final de 1951, o Club d'Essai torna-se o Groupe de Recherche de Musique Concrète (que em 1958 se transformaria no Groupe de Recherche Musicales). Com a colaboração do compositor-percussionista Pierre Henry e do engenheiro Jacques Poullin, Schaeffer estabelece o primeiro estúdio criado para musica eletroacústica. Com a ajuda de Poullin o estúdio ganhou novos equipamentos como um gravador de 3 pistas em 1952, o morphophone ( máquina com dez cabeçotes de leitura para reproduzir em eco anéis de fita ), o phonogène (uma máquina controlada por teclado para ler anéis de fita em vinte e quatro velocidades prefixadas ) e o potentiomètre d'space (um dispositivo para distribuir ao vivo uma pista pré-gravada entre quatro alto-falantes, incluindo um no centro do teto ).
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![]() Pierre Henry at the potentiomètre d'espace in a concert at the Salle de L'Ancien Conservatoire, Paris, 1952 |
Nos primeiros anos do estúdio Schaeffer e Henry criaram numerosas obras de música concreta e receberam vários compositores, entre eles:
Pierre Boulez: Étude I e II (1951) | |
André Hodeir: Jazz et Jazz (1951) | |
Olivier Messiaen: Timbres-durées (1952) | |
Karlheinz Stockhausen: Étude aux mille collants (1952) | |
Michel Philippot: Étude I (1953) | |
Jean Barraqué, Étude (1951-4) | |
Iannis Xenakis: Diamosphoses (1957), Orient-Ocident (1960) e Concrete PH (1958) | |
Henry Sauguet: Aspect Sentimental (1957) | |
André Boucourechliev: Text II (1959) | |
Além disso, Varèse e Honneger visitaram o estúdio para trabalhar nas partes gravadas de Déserts eLa Rivière e foram realizadas as trilhas sonoras dos filmes Masquerage (1952) por Schaeffer e Astrologie (1953) por Henry.
Depois de 15 anos de trabalho, Schaeffer publicou em 1966 o Traité des objects musicaux , uma espécie de síntese de seu pensamento musical e dos resultados de seus experimentos.
O termo musique concrète foi cunhado por Schaeffer para significar uma música feita de sons concretos retirados do meio e trabalhados concretamente por meio de montagens, colagens e outros tipos de transformações.
A essa composição com materiais extraídos dos dados sonoros experimentais, eu dou, por construção, o nome de música concreta, para assinalar nossa dependência, não mais em relação às abstrações sonoras preconcebidas, mas aos fragmentos sonoros existentes concretamente, e considerados como objetos sonoros definidos e completos, mesmo e sobretudo porque eles escapam às definições elementares do solfejo (A La Recherche d'une Musique Concrète, 1952, p. 22).
O material resultante dos processos da música concreta era gravado para posterior apresentação, eliminando estágios intermediários de notação na partitura e interpretação, porém, garantindo a fixação da obra que poderia ser repetida inúmeras vezes, analisada e discutida.
Fontes:
Palombini, Carlos. Musique Concrète Revisited. Electronic Musicological Review, Vol. 4/June 1999, http://www.rem.ufpr.br/REMv4/vol4/arti-palombini.htm
Bossis, Bruno. Introduction à l’histoire et à l’esthétique des musiques électroacoustiques, http://portal.unesco.org/culture/es/ev.php-URL_ID=26167&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html
Som original:
1 - mudança de velocidade (modifica altura e timbre, glissandos)
transposição pada o agudo:
transposição pada o grave:
glissando:
2 - inversão de fita
3 - montagem (corte e combinação de fragmentos)
4 - looping (repetição, ostinatos)
5 - mixagem (superposição de sons ---> degrada o sinal)
6 - registro em pistas múltiplas
7 - espacialização (estereofonia e quadrafonia)
8- delay